Os cristãos
atualmente ouvem muito a respeito da vida de renúncia. Mas o que isto significa
exatamente? A vida de renúncia é o ato de devolver a Jesus a vida que Ele lhe
concedeu. É abandonar o controle, os direitos, o poder, a direção, tudo o que
você faz e diz. É entregar totalmente a vida em Suas mãos, para que Ele a
conduza como quiser.
Eu me pergunto:
onde estes santos conseguiram a autoridade espiritual e o vigor para fazerem
tudo o que fizeram? Eles eram um outro tipo de gente, servos de um tipo
totalmente diferente daquele que vemos hoje na igreja. Eu simplesmente não
consigo me ver relacionado a eles, e ao seu caminhar. Sei que não sou
totalmente do tipo deles. E não conheço um único cristão que seja.
O próprio Jesus
viveu uma vida de renúncia: "Eu desci do céu, não para fazer a minha
própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (João 6:38).
"Eu não procuro a minha própria glória" (8:50). Cristo nunca fez algo
da própria vontade. Ele nunca deu um passo, nem disse uma palavra, sem ser
instruído pelo Pai. "Eu nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me
ensinou...porque faço sempre o que lhe agrada" (8:28-29).
A submissão total
de Jesus ao Pai é um exemplo de como todos nós deveríamos viver. Você pode
dizer: "Jesus era Deus na forma humana. Sua vida estava entregue antes
mesmo de vir à Terra". Mas a vida de renúncia não é imposta a ninguém,
incluindo Jesus.
Cristo pronunciou
estas palavras sendo um homem de carne e osso. Afinal, Ele veio ao mundo não
para viver como Deus, mas como ser humano. Ele viveu a vida do mesmo modo que
nós. E, como nós, tinha vontade própria. Ele optou por entregar esta vontade
totalmente ao Pai: "Por isso o Pai me ama, porque dou a minha vida para a
reassumir. Ninguém a tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou. Tenho autoridade
para a entregar, e também para reavê-la" (João 10:17-18).
Jesus estava nos
dizendo: "Não se enganem. Este ato de auto-entrega está totalmente sob a
Minha vontade. Estou optando por dar a Minha vida. E não estou fazendo isto
porque alguém Me disse para fazê-lo. Ninguém está tomando a Minha vida de Mim.
Meu Pai Me deu o direito e o privilégio de entregá-la. Ele também deu a opção
de Eu passar de Mim este cálice e evitar a cruz. Mas escolho fazê-lo, por amor
e completa submissão a Ele".
Nosso Pai celeste
deu a todos nós este mesmo direito: o privilégio de escolhermos uma vida de
renúncia. Ninguém é forçado a abrir mão de sua vida para Deus. Nosso Senhor não
nos faz sacrificar nossa vontade, devolvendo-Lhe nossas vidas. Ele nos oferece
livremente uma terra prometida, cheia de leite, mel e frutas. Mas podemos optar
por não entrar neste lugar de plenitude.
A verdade é que
podemos ter tanto de Cristo quanto quisermos. Podemos nos aprofundar nEle o
quanto optarmos, vivendo plenamente segundo Sua palavra e direção. O apóstolo
Paulo sabia disso. E escolheu seguir o exemplo de Jesus - o de uma vida de
submissão total.
Paulo tinha sido no
passado uma pessoa que odiava Jesus, um perseguidor de cristãos convencido da
própria justiça. Ele mesmo afirmou que literalmente respirava ódio contra os
seguidores de Cristo. Também era um homem muito obstinado e ambicioso. Paulo
era bem instruído, tendo sido ensinado pelos melhores mestres da época. E era
fariseu, entre os mais zelosos líderes religiosos judeus.
Desde o princípio
Paulo estava em ascensão, a caminho do sucesso. Ele tinha a aceitação da ordem
religiosa da época. E tinha uma clara missão, com recomendações de seus
superiores. Na verdade, ele tinha sua vida toda planejada, sabendo exatamente
aonde estava indo. Paulo estava confiante de estar fazendo a vontade de Deus.
Mas o Senhor tomou
este homem que venceu por si próprio, obstinado, independente - e o transformou
num ardente exemplo da vida de renúncia. Paulo tornou-se uma das pessoas mais
dependentes, plenas e conduzidas por Deus de toda a história. Em verdade, Paulo
declara que a sua vida é um modelo para todos que quiserem viver inteiramente
entregues a Cristo: "Mas, por esta mesma razão, me foi concedida
misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua
completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para
a vida eterna" (1 Timóteo 1:16).
O apóstolo estava
dizendo: "Se você quer saber quanto custa viver uma vida de renúncia, veja
a minha. Você determinou em seu coração ir mais a fundo com Jesus? Aqui está o
que você poderá ter que suportar". Paulo sabia que poucos estariam
dispostos a seguir seu exemplo. Mas a sua vida é um modelo para todos que
escolherem a vida de renúncia integral.
1. O Caminho da Renúncia Começa com Deus nos
Levando à Uma Sensação de Total Fragilidade.
Deus inicia o
processo nos fazendo cair do alto do cavalo. Para Paulo isto aconteceu
literalmente. Ele estava indo seguro de si em direção a Damasco, quando uma luz
ofuscante veio do céu. Paulo foi derrubado ao chão, trêmulo. Então uma voz
falou do céu, dizendo: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" (Atos
9:4)
As palavras levaram
Paulo de volta a um evento de meses atrás. De repente este justo fariseu
compreendeu porque sua consciência estava irrequieta. Paulo tinha suportado
longas noites de agitação, atormentado por inquietação e confusão - pois tinha
visto algo que o abalara até o âmago.
Paulo tinha
acompanhado o apedrejamento do apóstolo Estevão. Creio que Paulo lembrou do
olhar na face de Estevão diante da morte. Estevão tinha uma expressão
celestial, uma presença santa em torno de si. E suas palavras tinham tanto
poder. Eram penetrantes e cheias de poder de convencimento. Este homem humilde
não se importava nem um pouco com a aprovação do mundo; ele não estava
impressionado com as autoridades religiosas. E não tinha medo da morte.
Tudo isto expunha o
vazio da vida de Paulo. Este fariseu dos mais devotos percebeu que Estevão
tinha algo que ele não possuía. Paulo tinha tido contato face à face com um
homem totalmente submisso a Deus, e isto o tornou infeliz. Provavelmente ele
pensou: "Eu me preparei durante anos lendo as escrituras. Mas este homem
sem estudos proclama a palavra de Deus com autoridade. Eu tive sede de Deus
toda a minha vida. Mas Estevão tem o próprio poder do céu, mesmo ao morrer. Ele
claramente conhece Deus, como jamais encontrei outra pessoa. Todavia todo esse
tempo, estive perseguindo a ele e aos seus companheiros".
Paulo sabia que
estava faltando algo em sua vida. Ele tinha conhecimento de Deus, mas nenhuma
revelação própria, como Estevão. Agora, de joelhos e tremendo, ele ouve estas
palavras do céu: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (Atos 9:5). Foi
uma revelação sobrenatural. E as palavras viraram o mundo de Paulo de cabeça
para baixo. Creio que à estas alturas, ele deve ter ficado durante horas sobre
sua face, chorando, como que dizendo:
"Eu estava
totalmente enganado. Gastei todos estes anos com educação e estudo, praticando
boas obras. Mas o tempo todo, eu estava no caminho errado. Jesus é o Messias.
Ele veio, mas eu não O conheci. Todas aquelas passagens em Isaías fazem sentido
agora. Eram a respeito de Jesus. Agora entendo o que Estevão possuía. Ele tinha
um conhecimento íntimo de Cristo".
A escritura diz:
"Trêmulo e assustado (Paulo) disse: Senhor, que queres que eu faça?"
(Atos 9:6). A conversão de Paulo foi uma obra dramática do Espírito Santo. E
que convertido incomum foi este homem. Ele era o perseguidor do povo de Deus.
Seu testemunho seria uma evidência poderosa e irrefutável para o evangelho de
Jesus Cristo. Certamente Deus iria usar Paulo de maneiras incríveis.
"Levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer"
(9:6).
Tente imaginar
Paulo então. Este fariseu com alto grau de escolaridade estava agora emudecido
e cego. Ele teve de ser conduzido à cidade pelos amigos. Parecia que tudo na
sua vida tinha desmoronado. Mas a realidade é a seguinte: Paulo estava sendo
conduzido pelo Espírito Santo à uma vida de renúncia. Quando ele pergunta:
"Senhor, que queres que eu faça?", seu coração estava clamando:
"Jesus, como posso servir-Te? Como posso Te conhecer e agradar? Nada mais
importa. Tudo que tenho realizado na minha carne é estrume. Tu és tudo para mim
agora".
Paulo passou os
tres dias seguintes jejuando e orando. Todavia nenhuma palavra veio do céu. Ele
tinha ensinado e pregado a outros, mas nenhum dos seus conhecimentos podia
ajudá-lo agora. Ele estava totalmente fragilizado. Ele deve ter orado: "Ó
Deus, Tu me destes um desejo tão grande em conhecer-Te. Por favor, mostra-me o
que fazer. Estou tão cego e confuso, nada faz sentido".
Digo a todo
seguidor consagrado a Jesus: preste atenção à esta cena. Aqui está o modelo
para a vida de renúncia. Quando você decidir a se aprofundar em Cristo, Deus
colocará um Estevão no seu caminho. Ele o confrontará com alguém cujo semblante
tem o brilho de Jesus. Esta pessoa não está interessada nas coisas do mundo;
não se preocupa com os aplausos dos homens. Ela se preocupa apenas em agradar ao
Senhor. E a vida dela vai expor a complacência e as concessões que você tem
feito, condenando-o seriamente.
Assim como Paulo,
você sentirá repentinamente a sua falência. Perceberá que independente de
quantas boas obras tenha procurado realizar, você não encontrou Jesus. E
terminará num beco sem saída: confuso, desorientado, incapaz de dar um sentido
à toda a revelação anterior. Mas será tudo um agir de Deus. Ele o levará a este
estado de total desamparo.
2. O caminho da Renúncia Leva a Muito Sofrimento.
"Este é para
mim um instrumento escolhido, para levar o meu nome perante os gentios, os reis
e os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu
nome" (Atos 9:15-16). Paulo recebeu a promessa de um ministério frutífero.
Mas teria que suportar grandes sofrimentos para realizá-lo.
Sofrimento é um
assunto amplo, incluindo muitos tipos diferentes de dor: agonia física,
angústia mental, aflição emocional, dor espiritual. De acordo com as
escrituras, Paulo experimentou cada uma delas. Ele sofreu um espinho na carne,
naufrágios, apedrejamentos, açoites, roubos; enfrentou rejeição, zombaria,
mexericos maliciosos; suportou perseguições de todos os tipos. E às vezes
sentiu-se perdido, confuso, incapaz de ouvir algo de Deus.
Este modelo de sofrimento
da vida de Paulo não será experimentado por todos que buscam a vida de
renúncia. Mas de alguma maneira, todo crente consagrado irá se defrontar com a
dor. E há um propósito atrás de tudo isso. Veja, sofrimento é uma área da vida
sobre a qual não temos controle. É a área na qual aprendemos a nos render à
vontade de Deus.
Eu chamo este
sofrimento de escola da renúncia. É um local de treinamento onde, como Paulo,
caímos sobre nossas faces e terminamos clamando: "Senhor, não dá para
agüentar issso". Ele responde: "Bom. Deixe comigo. Entregue tudo a
Mim, corpo, alma, mente, coração, tudo. Confie plenamente em Mim".
Se você tomar o
caminho da renúncia, da submissão completa, sofrerá muito mais do que o cristão
mediano, complacente. Se um crente que faz concessões sofre, é apenas para o
seu benefício. O Senhor pode estar usando a dor para desabituá-lo de algum
pecado particular. E ninguém mais vai aprender com as suas lições. Mas se você
deseja a vida de renúncia, o seu sofrimento eventualmente se tornará um grande
conforto para outros. Paulo afirma:
"Bendito seja
o Deus...o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação. É ele que nos
conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em
qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por
Deus. Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande
medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de
Cristo. Mas, se somos atribulados, é para o vosso conforto e salvação; se somos
confortados, é também para o vosso conforto, o qual se torna eficaz, suportando
vós com paciência os mesmos sofrimentos que nós também padecemos" (2
Coríntios 1:3-6).
Paulo está falando
aqui de sofrimentos que são permitidos por Cristo. Nosso Senhor permite estas
dores nas nossas vidas, para nos tornar testemunhas da Sua fidelidade, diante
dos outros. Ele quer confirmar que é o "Deus de toda consolação"
(1:3). O objetivo do nosso sofrimento não é apenas nos levar à uma completa
entrega à Sua vontade. Também é para "vossa (dos outros) consolação e
salvação" (1:6). Resumindo, os maiores ministérios de consolação são fruto
dos nossos maiores sofrimentos.
3. O Caminho da Renúcia Leva à Uma Única Ambição.
Paulo não tinha
outra ambição, outra força que o impulsionava na vida, do que esta: "Que
possa ganhar a Cristo" (Filipenses 3:8).
Conheço um jovem
pregador, homem de Deus, que tem amizade com muitos outros pregadores jovens
pelo país inteiro. Perguntei-lhe qual ele considerava ser o maior problema
entre seus companheiros. Ele disse: "A pressão para ser bem
sucedido". Sua resposta me espantou. Eu sabia que a busca do sucesso é
comum na sociedade secular. Então também é uma praga na igreja? Ele explicou:
"Ministros jovens acham que precisam produzir grandes números na sua
igreja imediatamente. Eles sentem uma forte pressão para apresentar crescimento
da noite para o dia".
Isto também é um
problema para ministros mais antigos. Eles vêm trabalhando árduamente durante
anos, esperando ver sua igreja crescer. Quando então uma nova igreja, de um
pastor jovem, começa a crescer, os mais velhos se sentem pressionados a
conseguir o mesmo. Eles correm para conferências sobre crescimento de igrejas,
procurando técnicas para aumentar seus números.
Já perdi a conta de
quantas cartas tenho recebido, que dizem basicamente o seguinte: "Nosso
pastor acaba de retornar de uma conferência, animado com uma 'nova fórmula de
sucesso'. Diz que nossos cultos precisam ser mais amigáveis com pecadores.
Então ele alterou completamente o louvor, bem como os sermões. É um lugar
diferente agora. Alguns meses atrás o Espírito Santo se movia poderosamente
aqui. Mas agora as pessoas estão saindo, porque o Espírito foi embora".
Um pastor ficou
perplexo diante do conselho de um especialista em crescimento de igrejas. Este
lhe disse: "Sua igreja não pode crescer se Jesus é tudo o que você
oferece". Este "especialista" omitiu Cristo! A resposta a
qualquer problema da igreja está prontamente disponível, mas este homem não a
conheceu. Como? Ele se afastou justamente da ambição que Paulo diz ser
necessária: ganhar a Cristo.
Pelos padrões
atuais de sucesso, Paulo foi um fracasso total. Ele não construiu nenhum
prédio. Ele não tinha uma organização. E os métodos que ele usava eram
desprezados por outros líderes. Na verdade, a mensagem que Paulo pregava
ofendia muitos de seus ouvintes. Às vezes foi até apedrejado por isso. Seu
assunto? A cruz.
Jovens ministros
tem dito: "Irmão David, você é um sucesso. Você tem um ministério pelo
mundo todo. Você pastoreia uma mega-igreja. Até escreveu um best-seller. A sua
reputação é para a vida toda. Bem, e eu? Por que não posso ir pelo mesmo
caminho?".
Às vezes tenho me
sentido tentado a responder: "Mas eu paguei um preço. Você não conhece os
sofrimentos que passei nesta caminhada". Não, esta não é a resposta. O
fato é que conheço homens bem mais piedosos que eu, que sofreram bem mais do
que poderia sequer imaginar. Foram fiéis e consagrados, suportando terríveis
sofrimentos, alguns até à morte. Todavia os nomes destes homens não são
conhecidos pelo mundo afora.
Esta não é
absolutamente a questão. Quando todos estivermos diante de Deus no julgamento,
não seremos julgados segundo nossos ministérios, nossas realizações ou o número
de convertidos. Haverá apenas uma medida para o sucesso neste dia: nossos
corações estavam totalmente entregues a Deus? Pusemos de lado as nossas
próprias vontades e prioridades, para aceitar as dEle? Sucumbimos à pressão dos
outros e seguimos a multidão, ou buscamos apenas a Ele para nos guiar? Corremos
de um curso para outro procurando um objetivo na vida, ou encontramos a nossa
realização nEle?
Eu tive o chamado
para pregar a palavra de Deus desde os oito anos de idade. E posso dizer
honestamente que, durante toda a vida, a minha maior alegria tem sido ouvir o
Senhor. Eu sei que quando estou diante das pessoas para pregar, estou
divulgando uma mensagem que Deus me deu. E esta mensagem precisa trabalhar na
minha própria alma, antes de me atrever a pregá-la a outros. Deleito-me em
esperar no Senhor, para ouvir: "Este é o caminho, ande por ele".
Agora, aos setenta
anos, tenho apenas uma ambição: aprender mais e mais a dizer apenas as coisas
que o Pai me dá. Nada que digo ou faço de mim mesmo vale alguma coisa. Quero
poder afirmar: "Sei que meu Pai está comigo, pois faço apenas a Sua
vontade".
4. O Caminho da Renúncia Traz Contentamento Onde
Quer que Você Esteja, e Com o quê For que Possua
Muitos cristãos
vivem descontentes continuamente. Nunca estão satisfeitos com o que têm. Estão
sempre olhando para o futuro, pensando: "Se conseguir pelo menos fazer
isto, ou ter aquilo, estarei feliz." Mas sua realização nunca chega.
Contentamento foi
um enorme teste na vida de Paulo. Afinal, Deus disse que o usaria
poderosamente: "Este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome
perante os gentios, os reis e os filhos de Israel" (Atos 9:15). Quando
Paulo inicialmente recebeu esta comissão, "logo, nas sinagogas, pregava
que Jesus era o Filho de Deus" (9:20). O apóstolo ficava mais ousado a
cada sermão: "Saulo, porém, se fortalecia cada vez mais e confundia os
judeus que habitavam em Damasco, provando que Jesus era o Cristo" (9:22).
O que aconteceu em
seguida? "Os judeus deliberaram entre si matá-lo" (9:23). Seria o fim
- ao chamamento a Paulo para pregar aos filhos de Israel. Eles não só
rejeitaram sua mensagem, mas tramaram sua morte. Que início desastroso para um
ministério que Deus disse seria poderoso.
Paulo então decidiu
ir a Jerusalém, para se encontrar com os discípulos remanescentes de Jesus.
"Mas todos o temiam, não acreditando que fosse discípulo" (9:26).
Agora Paulo enfrentava uma rejeição ainda pior. Seus próprios irmãos em Cristo
o rejeitavam.
Finalmente, Paulo
raciocinou assim: "Ao menos posso alcançar os gentios". Todavia,
quando um proeminente gentio, Cornélio, procurou um pregador para compartilhar
o evangelho, ele não pediu a Paulo. Em vez disso, se dirigiu a Pedro. Sem
dúvida, Paulo ouviu as notícias gloriosas vindas da casa de Cornélio: "O
Espírito Santo desceu sobre os gentios. O Senhor revelou Cristo a eles!".
Posteriormente, na
conferência de Jerusalém, Paulo teve de ouvir Pedro declarando: "Irmãos,
bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios
ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem" (Atos 15:7). Aparentemente,
Deus tinha determinado que o avivamento entre os gentios viria através de outra
pessoa. Pelo que Paulo percebia, ele estaria de fora, observando as coisas
acontecerem.
O que você acha que
passou pela cabeça de Paulo ao vivenciar estas coisas? A verdade é que através
de tudo isso - o desapontamento, a dor, as ameaças à sua vida - Deus estava
ensinando ao seu servo uma coisa crucial: Paulo estava aprendendo a ter
contentamento, gradualmente, passo a passo.
Mais tarde, quando
Paulo pregou na Antioquia, sua mensagem foi contestada pelos líderes judeus.
Então Paulo declarou: "Eis que nos voltamos para os gentios" (Atos
13:46). Paulo pregou lá aos não judeus, e muitos se converteram; "e
divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região" (13:49). Mas
antes que pudesse saborear a vitória, "os judeus incitaram as mulheres
devotas de alta posição...e levantaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé,
e os lançaram fora da sua região" (13:50).
Em seguida Paulo
voltou sua atenção para Icônio. Ao pregar lá, mais uma vez "creu uma
grande multidão, tanto de judeus como de gregos" (14:1). Um avivamento
caiu sobre a cidade. Mas, novamente "houve um motim tanto dos gentios como
dos judeus, juntamente com as suas autoridades, para os ultrajarem e
apedrejarem" (14:5).
Você pode imaginar
a confusão e o desencorajamento de Paulo? A cada movimento, o seu chamado
parecia frustrado. Deus lhe tinha prometido um ministério de evangelização com
muitos frutos. Mas cada vez que pregava, ele era amaldiçoado, rejeitado, agredido,
apedrejado. Como ele respondia? "Aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação" (Filipenses 4:11).
Paulo não
questionava, nem reclamava. Ele não buscava saber quando chegaria a pregar a
reis e governadores. Ele dizia, basicamente: "Posso não estar vendo agora
o que o Senhor me prometeu. Mas estou avançando pela fé, pois estou contente em
ter Jesus. Por causa dEle, posso viver cada dia - ao máximo".
O Contentamento de Paulo em Qualquer Circunstância
Era o Resultado de uma Vida Submissa.
Paulo não tinha
pressa de ver tudo cumprido na sua vida. Ele sabia que tinha uma pétrea
promessa de Deus, e se apegou à ela. No momento ele estava contente em poder
ministrar em qualquer lugar que estivesse: testemunhando a um carcereiro, a um
marinheiro, a algumas mulheres na beira do rio. Este homem tinha uma missão de
âmbito mundial, no entanto era fiel no testemunhar de um em um.
Paulo também não
tinha ciúmes de pessoas mais jovens que pareciam deixá-lo para trás. Enquanto
eles viajavam o mundo, ganhando judeus e gentios para Cristo, Paulo estava na
prisão. Era obrigado a ouvir notícias a respeito de grandes multidões sendo
convertidas por homens - com os quais ele tinha discutido sobre o evangelho da
graça. Mas Paulo não os invejava. Ele sabia que uma pessoa entregue a Cristo
pode viver tanto na escassez quanto na abundância: "Grande fonte de lucro
é a piedade com o contentamento... tendo, porém, alimento e com que nos vestir,
estejamos contentes" (1 Timóteo 6:6-8).
O mundo hoje
poderia dizer a Paulo: "Você está no fim da vida agora. Todavia não tem
economias, nem investimentos. Tudo que tem é uma muda de roupa". Eu sei
qual seria a resposta de Paulo: "Ah, mas eu ganhei a Cristo. De fato tenho
a verdadeira vida".
"Mas o diabo
está te importunando continuamente, Paulo. Você vive em dor constante. Na
verdade, você sofre mais que qualquer outro que conheço. Como pode ser
isto?"
Paulo responderia:
"Eu me glorio nas minhas aflições. Quando estou fraco, aí é que na verdade
estou mais forte. Não meço minha força pelos padrões do mundo, mas pelos do
Senhor."
"E quanto a
seu rival, Apolo? Ele tem a atenção das massas. Mas você ministra apenas a
pequenos grupos, ou mesmo uma pessoa. Apolo é um orador eloqüente, mas a sua
fala é desprezível, Paulo."
Paulo diria:
"Nada disso me incomoda. Eu não busco a glória nesta vida. Tenho uma
revelação da glória que me aguarda".
"E quanto a
promessa que Deus lhe deu? Ele disse que você testemunharia diante de reis. A
única vez que o fez, estava acorrentado. Você teve de pregar enquanto estava
preso. Onde está o cumprimento da promessa de Deus em sua vida?"
Paulo diria:
"Meu Senhor manteve Sua palavra a mim. Não foi do modo que eu esperava,
mas do jeito dEle. Indiferente às minhas correntes, preguei Cristo em
plenitude. E olha, aqueles dirigentes foram tocados. Quando terminei a pregação
eles tremiam. O Senhor me foi favorável, da Sua maneira".
"Paulo, você
acabou sendo um tolo. Todos na Ásia se voltaram contra você. Quanto mais você
ama outros, menos é amado. Você trabalhou todo esse tempo para construir a
igreja de Deus, mesmo fazendo tarefas humildes. Mas ninguém valoriza isso.
Mesmo os pastores que você instruiu, agora zombam de si. Alguns até lhe baniram
dos seus púlpitos. Por que você continua neste ministério? Você não tem sido
sucesso em nenhum sentido da palavra."
E Paulo: "Eu
já deixei este mundo, com todas as suas ambições e bajulações. Não necessito
dos louvores dos homens. Veja, eu fui arrebatado ao paraíso. Ouvi palavras
inefáveis, palavras que não são lícitas ao homem proferir. Portanto você pode
ter toda a competição deste mundo, com todas as suas rivalidades. Eu decidi
nada saber entre vós, senão a Cristo, e Este crucificado.
Posso lhe dizer, eu
sou vencedor. Eu achei a pérola de grande valor. Jesus me concedeu o poder de
entregar tudo, e de tomar novamente. Bem, eu entreguei tudo, e agora uma coroa
me aguarda. Tenho apenas um objetivo nesta vida: ver meu Jesus face a face.
Todos os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a alegria
que me aguarda".
Que os nossos
corações possam ser como o de Paulo, enquanto buscamos a vida de renúncia.
ANONIMO
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