quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

IGREJA: MUSEU DE SANTOS OU HOSPITAL PARA PECADORES?





O cristianismo primitivo sofreu sérios desvios quando a vida cristã passou a ser reinterpretada de modo inclusivo. O nascimento do monasticismo tinha como objetivo fazer com que cristãos se isolassem do mundo. Nascem os monastérios e os conventos, onde as pessoas, com boas intenções, viviam sob rígidas disciplinas, para servir a Deus enclausuradas em quatro paredes. Isso pode ter até ter trazido algum beneficio devido a seriedade de seus proponentes. Mas de um modo geral, eu vejo o monasticismo como um modelo de querer restringir a igreja em quatro paredes, fazendo com que seja apenas um museu, ao contrario do que fez Francisco de Assis, que levou a esperança aos pobres e deu a sua vida por uma causa aberta, há dentro do catolicismo modelos que realmente reflete uma abertura amorosa as pessoas que estão do lado de fora, lá no mundo, e creio que um exemplo bem claro disso, foi o legado de Henry Nowen. Antes que alguém venha tirar conclusões apressadas, sou evangélico conservador, não sou ecumênico, e embora tenha que admirar muitas coisas no catolicismo, e não me envergonho disso.  Não concordo com seu sistema doutrinário, e nem mesmo minha intenção aqui falar sobre isso.
 Voltemos ao monasticismo. A vida integrada a uma prisão em quatro paredes, isolado do mundo e longe da civilização parece ser atraente, mas não tem fundamento bíblico, fere o IDE de JESUS, e mina as bases da fraternidade da justiça e do amor.
 Há conceitos de evangélicos que se assemelham muito a isso. Recentemente ouvi pessoalmente um cristão dizer que a Igreja tem que ser sofrer o prejuízo dos que não querem se adaptar ao sistema eclesiástico vigente, e que a igreja deve sofrer a perda dos membros menos santos. Essa é a visão de alguém que lê a bíblia, que se diz cristão, e quer ver a igreja como uma comunidade de “santos empalhados” para exposição ao mundo...
 Desculpem minha ironia, mas é isso que vejo em muitos lugares, a igreja como ujm modelo de  museu. Ali só há espaço para quem é “santo” não há lugar para os fracos na fé, não há lugar para os doentes, não há lugar para os desanimados, não há lugar para quem deseja se aperfeiçoar, ali só existe lugar para os “perfeitos”.
 Por favor me entenda, eu creio na santidade, não em santarronice, esse é um termo que inventei, para ser denominador comum, aos que pretendem serem santos sem terem misericórdia, amor, carinho, respeito, equidade, equilíbrio e coerência. Se em nosso cristianismo moderno há os que querem fazer da igreja um clube, é certo também que outros querem fazer dele um museu!
 A igreja foi constituída como uma comunidade, onde três coisas precisam estar atadas: uniformidade, unidade e unaniminidade. (Atos 2:42). A fonte da vida da igreja é Jesus, ele é a base fundamental da nossa fé, e seus ensinos permeiam a vida da igreja.
 Jesus deixou um legado de ensinos maravilhosos, eu creio em tudo o que ele disse e ensinou, ele falou sobre o caminho estreito, falou sobre o preço do discipulado, tenho crido nisso de todo o meu coração. Mas não podemos nunca parar por ai, sendo santo e sendo zeloso, Cristo era misericordioso, e das paginas dos evangelhos saem as mais lindas historias da misericórdia . Uma história que foi tecida com os fios de ouro da misericórdia foi a parábola do filho pródigo, outra historia tecida com fios dourados do amor de Deus foi a parábola centésima ovelha perdida.(Lucas 15) O pródigo, toma a iniciativa de ser rebelde, ele é pois uma espécie de “ovelha negra da família”.  Cai no mundão, gasta toda a herança com as coisas mais vis, desce os degraus do pecado, até onde a escuridão abissal não permite uma fagulha de temor, a centésima ovelha, sai do rebanho, se desgarra, e sai sozinha, é rebelde, autônoma, independente. Numa precisão técnica da santarronice, a ovelha desgarrada não merece carinho atenção, os subsídios da santidade não podem ser gastos com uma ovelha tão impenitente, que dá trabalho, não respeita a vida de comunidade e sai por ai, autônoma, para sofrer as conseqüências de suas decisões pessoais.  Há só um fator predominante: eliminação: num museu de exposição de santos, um filho pródigo fedorento e maltrapilho, mancha a configuração dos perfeitos. Além disso, aquilo que trás prejuízos para a integridade alheia deve ser eliminado, banido. Não há espaço, o ambiente das assembléias dos museus que querem implantar por ai, não aceitam ovelhas quebradas.
 Não há espaço para elas, filhos pródigos e ovelhas perdidas não encontram bálsamos para suas fraturas em museus. Ali não há remédio que consola a alma.
 Quando Jesus veio ao mundo, encontrou muita santarronice, gente intolerante que procurava os erros nos outros, para depois poder aplicar a lei, em muitos casos de pena de morte.
 Mas quando ele organizou um colégio apostólico, procurou doze homens, com falhas e pouco a pouco, foi aperfeiçoando eles na escola da humildade e na universidade da misericórdia. Veja bem, esses não se tornaram homens enclausurados, aprisionados em quatro paredes de um templo, mas foram lá fora, e seguindo o modelo do mestre, foram levar esperança aos desesperados, foram levar comida aos famintos, foram ajudar os caídos e prosseguiram nessa caminhada até o fim. A igreja do Novo Testamento era uma igreja, não era um museu, era uma igreja que incluía em seu meio, as mais complexas pessoas, veio Paulo com formação rabínica, não para ficar em exposição em uma praça, mas para desgastar a própria vida em prol do evangelho. Veio Mateus, Pedro, Tiago, Judas, que mesmo com toda a sutilidade de caráter, não foi expulso do colégio apostólico.  Jesus como modelo não se retrai, vai aos Samaritanos, os intocáveis inferiores no judaísmo daquela época, vai até o gadareno, cristo como modelo de vida expôs a sua vida não a um museu judaico, mas a uma cruz, sofrendo a ignomínia e a afronta, para pagar pelos nossos pecados, então porque alguns querem fazer da igreja um museu de santos?
 Gente que se acha perfeita aos próprios olhos, cuja arrogância endurece completamente a alma nunca pode experimentar a verdadeira santidade. Nós precisamos viver um cristianismo de amor aos perdidos, fazer com que a igreja seja aquecida com a misericórdia de DEUS. A igreja precisa de homens que estejam dispostos a chorar com os que choram, a ajudar a carregar a carga alheia, a buscar conciliar os que se afastaram. Igreja é lugar de santos, eu concordo, mas de santos que sejam humildes, aliás não existe santidade sem humildade. Santos que saiam ao mundo, que respeitem seus superiores, que não sejam partidaristas, que não busquem a satisfação própria, mas em tudo sejam servos.
 “Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” (Jo 3:21) Jesus não ensinou enclausuramento, mas ensinou a ir ao mundo “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Mc 16:15).
Deus tem o propósito de fazer com que a igreja cresça, isso tem sido desde o principio: “Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2:47)
 Na parábola do bom samaritano, vimos como a misericórdia divina é retratada na obra de restauração aos feridos: “E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele”(Lc 10:34) essa é a passagem mais irônica, que Cristo deixou em seu rico legado de ensinos sobre a verdadeira vida religiosa. Vale a pena ler, com as lentes da misericórdia divina!
   Em suma podemos concluir com Cristo a respeito dos crentes, que não fiquem enclausurados, mas que saiam para que sejam luzes em meio as trevas espirituais, JESUS mesmo falou: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.” (Jo 17:15).
 Vamos das as mãos aos quebrantados, aos decepcionados, aos que estão feridos e precisam de amor carinho e tratamento. Que o templo possa ser uma oficina do mestre, que possa ser uma olaria, um pronto socorro espiritual para levar consolo e remédio as almas doentes.


CLAVIO JUVENAL JACINTO

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