Em defesa do
Pentecostalismo
POR : ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA
Já li várias matérias a respeito do
pentecostalismo. De artigos acadêmicos a textos publicados no mundo virtual, a
oferta sobre o tema é vastíssima.
Porém, uma coisa me incomoda profundamente; o julgamento prévio, na maioria das vezes preconceituoso e irônico, a qual o importante fenômeno pentecostal é submetido.
É necessário dizer que não sou carismático, nunca tive uma experiência avivalista em minha vida religiosa. Sou membro de uma denominação reformada tradicional, porém não cessacionista, e pauto minha identidade teológica naquilo que posso denominar como “ reformada progressista”, fazendo uma leitura contextualizada da teologia dos reformadores. Não suportanto rótulos, creio que me enquadro entre a neo-ortodoxia barthiana e um liberalismo moderado evangélico.
Liturgicamente, mesmo defendendo um culto brasileiro e contextualizado de acordo com nosso povo e tempo, sou afeito a uma liturgia trabalhada, solene, portanto bastante diferente da típica liturgia pentecostal.
Feitas as devidas ressalvas, vou esclarecer o motivo de minha tristeza quando leio determinadas notas a respeito do pentecostalismo. A mídia secular quase sempre aborda o movimento pentecostal apenas em seu aspecto pejorativo e não tão nobre, afinal, está em busca daquilo que pode proporcionar polêmica e, no caso, retorno financeiro. Acho que nunca li uma leitura teológica e sociológica séria na grande mídia sobre o tema. Por outro lado, setores da mídia evangélica, influenciados por uma mania neurótica de perseguição, nunca estão dispostos a realizar um debate relevante e imparcial sobre assuntos polêmicos relacionados ao pentecostalismo.
O que resta são alguns poucos bons livros acadêmicos, porém de dificil acesso e compreensão para o grande público. Assim, gostaria de escrever algumas impressões particulares a respeito do pentecostalismo, avaliando sua força e fraqueza. Quando digo pentecostalismo, me refiro ao movimento clássico, não considerando o chamado neopentecostalismo.
O lado Libertário do Pentecostalismo
Surgido no início do século XX nos Estados Unidos, o movimento pentecostal sempre foi visto com maus olhos pelos protestantes fundamentalistas. Suas ênfases doutrinárias e litúrgicas foram rebatidas com argumentos diversificados, desde ricos comentários teológicos até chavões toscos e preconceituosos.
Dentro do universo reformado estadunidense, teólogos presbiterianos de renome como B.B.Warfield e Charles Hodge argumentavam que os dons espirituais narrados nas páginas do Novo Testamento tiveram seu fim logo após a era apostólica. Dessa forma, qualquer ato sobrenatural ocorrido após esse período seria basicamente fraudulento. A obra de Warfield denominada “Milagres Falsificados”, publicada em 1918, negava, por exemplo, a existência de atos miraculosos na era contemporânea. Portanto, um dos pilares básicos do pentecostalismo era contestado. Outro presbiteriano,Ronald A.Knox, fomentou um ataque mais virulento ao pentecostalismo por meio de seu livro “Entusiasmo”, onde as manifestações emocionais ocorridas em cultos pentecostais foram veementemente condenadas.Com a consolidação do movimento fundamentalista o nascente pentecostalismo tornou-se alvo de uma campanha agressiva e difamatória. Batistas e presbiterianos conservadores lideraram esse período inquisitorial. A anteriormente elaborada contestação teológica feita por teólogos conservadores como Warfield cedeu lugar a agressões verbais completamente destemperadas, como acusações de que o pentecostalismo seria o último “vômito de Satã” na terra.
A despeito das críticas doutrinárias, será que o ataque ao pentecostalismo foi motivado apenas por questões dogmáticas e litúrgicas? Uma analise fria da história nos mostra que não. Surgido oficialmente em abril de 1906, o pentecostalismo teve como principal líder a figura do negro Wiliam Joseph Seymour. Aluno do metodista racista Charles Fox Parham, Seymour sentiu na própria pele a crueldade do racismo estadunidense. Assíduo freqüentador das aulas bíblicas ministradas por Parham, Seymour tinha sua presença em sala de aula proibida pelo fato de ser negro. Posteriormente, como líder do novo movimento religioso que seria conhecido como pentecostalismo, foi responsável por uma integração racial jamais vista nos EUA do início do século XX. Assim, essa verdadeira democracia racial incomodou a elite branca estadunidense majoritariamente vinculada ao fundamentalismo protestante.
Karen Armstrong em seu ótimo livro “Em nome de Deus- o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo ", confirma tal tese. Vejamos:
“Nesses primeiros anos parecia que uma nova ordem mundial estava surgindo em seus cultos. Numa época de insegurança econômica e crescente xenofobia, negros e brancos rezavam juntos e se abraçavam. Seymour se convenceu de que era essa integração racial, e não o dom de línguas, que constituía o sinal decisivo do fim dos tempos”.
O historiador David Daniel III confirma os dados transmitidos por Karen:
“A Missão da Fé Apostólica de Seymour serviu de modelo para as relações raciais. De 1906 a 1908, negros, brancos, latinos e asiáticos adoravam juntos na missão. Líderes pentecostais brancos, como Florence Crawford, Glenn Cook, R.J.Scott e Clara Lum, trabalhavam com o pastor Seymour, e com algumas lideres negras como Jennie Evans Moore, Lucy Farrow e Ophelia Wiley. O pentecostalismo nascente teve de encarar sua identidade racial numa época em que a maioria das instituições e movimentos cristãos e sociais dos Estados Unidos esposava a segregação racial. Frank Bartlemann, que participou do avivamento na Rua Azusa, expressa sua admiração – A segregação racial foi apagada pelo sangue de Jesus! Enquanto batistas, metodistas, presbiterianos e comunhões holiness, no período de 1865 a 1910, tendiam à segregação racial em suas congregações, associações e estruturas denominacionais, brancos e negros pentecostais pastorearam, pregaram, comungaram e adoraram juntos de 1906 a 1914. Em geral, antes de 1914, os ministros pentecostais brancos independentes recusavam a filiar-se a emergentes denominações pentecostais de tendências segregacionistas, embora muitos deles fossem membros do grupo pentecostal holiness de maioria negra, a Igreja de Deus em Cristo. A liderança pentecostal condenava com veemência as atividades da Ku Klux Klan, e muitas vezes foi alvo do terrorismo dessa organização, por causa da ética inter-racial do pentecostalismo. Parham demonstrava um comportamento racista e uma atitude arrogante em relação a seus colegas negros, especialmente Seymour”.
Tais ideais eram inaceitáveis para o típico protestante conservador norte-americano. Convém lembrar que o fundamentalismo protestante, posteriormente associado aos grotões menos desenvolvidos dos EUA, em seu início foi financiado por elementos altamente influentes da elite, como os magnatas ligados a indústria petrolífera Lyman e Milton Stewart, responsáveis pela publicação, entre 1910 e 1915, da famosa série de folhetos “Os Fundamentos”, considerados textos basilares para a ortodoxia protestante.
Portanto, qualquer movimento que alterasse a ordem estabelecida seria considerado absolutamente herético. Além da integração racial promovida pelos primeiros pentecostais, outros fatores contribuíram para o repúdio manifestado por setores magistrais do protestantismo norte-americano. O culto altamente participativo, responsável pela quebra de barreiras entre clero e laicato, não poderia ser aceito normalmente por uma sociedade fortemente hierárquica. Não bastando, a composição sócio-econômica bastante humilde da maior parte dos integrantes do pentecostalismo original despertou uma oposição virulenta em setores ligados ao grupo majoritário e conservador do protestantismo americano. Vinson Synan, historiador pentecostal estadunidense, confirma essa idéia:
“Durante seis décadas (1906-1960), o pentecostalismo foi excluído do que era considerado cristianismo respeitável nos Estados Unidos e no mundo. Os pentecostais eram barulhentos e, para alguns, desordeiros. Sua adoração estava além do entendimento daqueles que não conheciam a espiritualidade interior que orientava o movimento. Acima de tudo, os pentecostais eram pobres, desprivilegiados, sem instrução e alheios às últimas tendências teológicas que interessavam à maior parte do protestantismo”.
A mídia secular da época, demonstrando de forma latente seu preconceito, não se cansava de noticiar fatos supostamente bizarros do pentecostalismo. Acontecimentos bizarros, além das manifestações sobrenaturais, eram considerados a liderança do movimento por um homem negro e a participação de mulheres em postos de liderança.
Após uma análise dos fatos citados, podemos concluir que o pentecostalismo não nasceu como um movimento repressor, mas sim como portador de uma proposta altamente libertária. Além das práticas com claro reflexo social, como a integração racial, valorização da mulher e ausência de discriminação por questões econômicas, a própria espiritualidade pentecostal era libertadora. Mesmo submetendo suas doutrinas e práticas ao crivo da Bíblia Sagrada, concedia um elevado posto ao sentimento pessoal do crente. Tal concepção chocava-se de forma contundente com o fundamentalismo teológico que apregoava a observância irrestrita a letra do texto bíblico.
Com o passar do tempo, um segmento substancial do pentecostalismo perdeu parte dessas características. Em completa contradição com seu passado não segregacionista, viu nascer em seu seio várias denominações pentecostais voltadas exclusivamente para brancos. Convém lembrar que o pentecostalismo brasileiro é originário desse pentecostalismo segregacionista, uma verdadeira apostasia da proposta original.
Como se tratava de um movimento recente e sem grande tradição teológica, aceitou boa parte das doutrinas defendidas pelo fundamentalismo que tanto o combatera. Dessa forma, doutrinas associadas deliberadamente ao pentecostalismo como: escatologia pré-milenarista, inerrância verbal das Escrituras e um moralismo asceta foram tomadas como empréstimo do protestantismo tradicional fundamentalista. Assim, esses elementos doutrinários claramente repressivos e limitadores de uma atuação transformadora na sociedade não são características inerentes ao pentecostalismo, mas refletem a influência nefasta do fundamentalismo sobre um movimento que tinha tudo para ser uma verdadeira renovação no cristianismo.
Após esta breve análise histórica, cabe aos pentecostais do século XXI a luta pelo retorno aos antigos e originais valores.
Porém, uma coisa me incomoda profundamente; o julgamento prévio, na maioria das vezes preconceituoso e irônico, a qual o importante fenômeno pentecostal é submetido.
É necessário dizer que não sou carismático, nunca tive uma experiência avivalista em minha vida religiosa. Sou membro de uma denominação reformada tradicional, porém não cessacionista, e pauto minha identidade teológica naquilo que posso denominar como “ reformada progressista”, fazendo uma leitura contextualizada da teologia dos reformadores. Não suportanto rótulos, creio que me enquadro entre a neo-ortodoxia barthiana e um liberalismo moderado evangélico.
Liturgicamente, mesmo defendendo um culto brasileiro e contextualizado de acordo com nosso povo e tempo, sou afeito a uma liturgia trabalhada, solene, portanto bastante diferente da típica liturgia pentecostal.
Feitas as devidas ressalvas, vou esclarecer o motivo de minha tristeza quando leio determinadas notas a respeito do pentecostalismo. A mídia secular quase sempre aborda o movimento pentecostal apenas em seu aspecto pejorativo e não tão nobre, afinal, está em busca daquilo que pode proporcionar polêmica e, no caso, retorno financeiro. Acho que nunca li uma leitura teológica e sociológica séria na grande mídia sobre o tema. Por outro lado, setores da mídia evangélica, influenciados por uma mania neurótica de perseguição, nunca estão dispostos a realizar um debate relevante e imparcial sobre assuntos polêmicos relacionados ao pentecostalismo.
O que resta são alguns poucos bons livros acadêmicos, porém de dificil acesso e compreensão para o grande público. Assim, gostaria de escrever algumas impressões particulares a respeito do pentecostalismo, avaliando sua força e fraqueza. Quando digo pentecostalismo, me refiro ao movimento clássico, não considerando o chamado neopentecostalismo.
O lado Libertário do Pentecostalismo
Surgido no início do século XX nos Estados Unidos, o movimento pentecostal sempre foi visto com maus olhos pelos protestantes fundamentalistas. Suas ênfases doutrinárias e litúrgicas foram rebatidas com argumentos diversificados, desde ricos comentários teológicos até chavões toscos e preconceituosos.
Dentro do universo reformado estadunidense, teólogos presbiterianos de renome como B.B.Warfield e Charles Hodge argumentavam que os dons espirituais narrados nas páginas do Novo Testamento tiveram seu fim logo após a era apostólica. Dessa forma, qualquer ato sobrenatural ocorrido após esse período seria basicamente fraudulento. A obra de Warfield denominada “Milagres Falsificados”, publicada em 1918, negava, por exemplo, a existência de atos miraculosos na era contemporânea. Portanto, um dos pilares básicos do pentecostalismo era contestado. Outro presbiteriano,Ronald A.Knox, fomentou um ataque mais virulento ao pentecostalismo por meio de seu livro “Entusiasmo”, onde as manifestações emocionais ocorridas em cultos pentecostais foram veementemente condenadas.Com a consolidação do movimento fundamentalista o nascente pentecostalismo tornou-se alvo de uma campanha agressiva e difamatória. Batistas e presbiterianos conservadores lideraram esse período inquisitorial. A anteriormente elaborada contestação teológica feita por teólogos conservadores como Warfield cedeu lugar a agressões verbais completamente destemperadas, como acusações de que o pentecostalismo seria o último “vômito de Satã” na terra.
A despeito das críticas doutrinárias, será que o ataque ao pentecostalismo foi motivado apenas por questões dogmáticas e litúrgicas? Uma analise fria da história nos mostra que não. Surgido oficialmente em abril de 1906, o pentecostalismo teve como principal líder a figura do negro Wiliam Joseph Seymour. Aluno do metodista racista Charles Fox Parham, Seymour sentiu na própria pele a crueldade do racismo estadunidense. Assíduo freqüentador das aulas bíblicas ministradas por Parham, Seymour tinha sua presença em sala de aula proibida pelo fato de ser negro. Posteriormente, como líder do novo movimento religioso que seria conhecido como pentecostalismo, foi responsável por uma integração racial jamais vista nos EUA do início do século XX. Assim, essa verdadeira democracia racial incomodou a elite branca estadunidense majoritariamente vinculada ao fundamentalismo protestante.
Karen Armstrong em seu ótimo livro “Em nome de Deus- o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo ", confirma tal tese. Vejamos:
“Nesses primeiros anos parecia que uma nova ordem mundial estava surgindo em seus cultos. Numa época de insegurança econômica e crescente xenofobia, negros e brancos rezavam juntos e se abraçavam. Seymour se convenceu de que era essa integração racial, e não o dom de línguas, que constituía o sinal decisivo do fim dos tempos”.
O historiador David Daniel III confirma os dados transmitidos por Karen:
“A Missão da Fé Apostólica de Seymour serviu de modelo para as relações raciais. De 1906 a 1908, negros, brancos, latinos e asiáticos adoravam juntos na missão. Líderes pentecostais brancos, como Florence Crawford, Glenn Cook, R.J.Scott e Clara Lum, trabalhavam com o pastor Seymour, e com algumas lideres negras como Jennie Evans Moore, Lucy Farrow e Ophelia Wiley. O pentecostalismo nascente teve de encarar sua identidade racial numa época em que a maioria das instituições e movimentos cristãos e sociais dos Estados Unidos esposava a segregação racial. Frank Bartlemann, que participou do avivamento na Rua Azusa, expressa sua admiração – A segregação racial foi apagada pelo sangue de Jesus! Enquanto batistas, metodistas, presbiterianos e comunhões holiness, no período de 1865 a 1910, tendiam à segregação racial em suas congregações, associações e estruturas denominacionais, brancos e negros pentecostais pastorearam, pregaram, comungaram e adoraram juntos de 1906 a 1914. Em geral, antes de 1914, os ministros pentecostais brancos independentes recusavam a filiar-se a emergentes denominações pentecostais de tendências segregacionistas, embora muitos deles fossem membros do grupo pentecostal holiness de maioria negra, a Igreja de Deus em Cristo. A liderança pentecostal condenava com veemência as atividades da Ku Klux Klan, e muitas vezes foi alvo do terrorismo dessa organização, por causa da ética inter-racial do pentecostalismo. Parham demonstrava um comportamento racista e uma atitude arrogante em relação a seus colegas negros, especialmente Seymour”.
Tais ideais eram inaceitáveis para o típico protestante conservador norte-americano. Convém lembrar que o fundamentalismo protestante, posteriormente associado aos grotões menos desenvolvidos dos EUA, em seu início foi financiado por elementos altamente influentes da elite, como os magnatas ligados a indústria petrolífera Lyman e Milton Stewart, responsáveis pela publicação, entre 1910 e 1915, da famosa série de folhetos “Os Fundamentos”, considerados textos basilares para a ortodoxia protestante.
Portanto, qualquer movimento que alterasse a ordem estabelecida seria considerado absolutamente herético. Além da integração racial promovida pelos primeiros pentecostais, outros fatores contribuíram para o repúdio manifestado por setores magistrais do protestantismo norte-americano. O culto altamente participativo, responsável pela quebra de barreiras entre clero e laicato, não poderia ser aceito normalmente por uma sociedade fortemente hierárquica. Não bastando, a composição sócio-econômica bastante humilde da maior parte dos integrantes do pentecostalismo original despertou uma oposição virulenta em setores ligados ao grupo majoritário e conservador do protestantismo americano. Vinson Synan, historiador pentecostal estadunidense, confirma essa idéia:
“Durante seis décadas (1906-1960), o pentecostalismo foi excluído do que era considerado cristianismo respeitável nos Estados Unidos e no mundo. Os pentecostais eram barulhentos e, para alguns, desordeiros. Sua adoração estava além do entendimento daqueles que não conheciam a espiritualidade interior que orientava o movimento. Acima de tudo, os pentecostais eram pobres, desprivilegiados, sem instrução e alheios às últimas tendências teológicas que interessavam à maior parte do protestantismo”.
A mídia secular da época, demonstrando de forma latente seu preconceito, não se cansava de noticiar fatos supostamente bizarros do pentecostalismo. Acontecimentos bizarros, além das manifestações sobrenaturais, eram considerados a liderança do movimento por um homem negro e a participação de mulheres em postos de liderança.
Após uma análise dos fatos citados, podemos concluir que o pentecostalismo não nasceu como um movimento repressor, mas sim como portador de uma proposta altamente libertária. Além das práticas com claro reflexo social, como a integração racial, valorização da mulher e ausência de discriminação por questões econômicas, a própria espiritualidade pentecostal era libertadora. Mesmo submetendo suas doutrinas e práticas ao crivo da Bíblia Sagrada, concedia um elevado posto ao sentimento pessoal do crente. Tal concepção chocava-se de forma contundente com o fundamentalismo teológico que apregoava a observância irrestrita a letra do texto bíblico.
Com o passar do tempo, um segmento substancial do pentecostalismo perdeu parte dessas características. Em completa contradição com seu passado não segregacionista, viu nascer em seu seio várias denominações pentecostais voltadas exclusivamente para brancos. Convém lembrar que o pentecostalismo brasileiro é originário desse pentecostalismo segregacionista, uma verdadeira apostasia da proposta original.
Como se tratava de um movimento recente e sem grande tradição teológica, aceitou boa parte das doutrinas defendidas pelo fundamentalismo que tanto o combatera. Dessa forma, doutrinas associadas deliberadamente ao pentecostalismo como: escatologia pré-milenarista, inerrância verbal das Escrituras e um moralismo asceta foram tomadas como empréstimo do protestantismo tradicional fundamentalista. Assim, esses elementos doutrinários claramente repressivos e limitadores de uma atuação transformadora na sociedade não são características inerentes ao pentecostalismo, mas refletem a influência nefasta do fundamentalismo sobre um movimento que tinha tudo para ser uma verdadeira renovação no cristianismo.
Após esta breve análise histórica, cabe aos pentecostais do século XXI a luta pelo retorno aos antigos e originais valores.
Extraido de wwwcristianismolibertas.blogspot.com
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