Wilbur (Dr. Gilberto) Norman Pickering, ThM PhD
- Não há nenhuma menção na Bíblia de alguém guardar o Sábado antes da Lei de Moisés. No único livro canônico escrito antes de Moisés, Jó, não aparece. Jó era tão justo que Deus lança no rosto de Satanás — então guardar o Sábado não fazia parte da justiça de Deus na época.
- A marcha de Elim a Sim (uns 35 km, no deserto) se deu num sábado. O sábado seguinte foi o primeiro a ser guardado (Ex. 16:1-35). Ver Neemias 9:13-14.
- O Sábado era um sinal entre Deus e Israel; nunca foi imposto aos Gentios (Ex. 31:12-17, Ezeq. 20:10-12).
- A própria Lei, inclusive as tábuas, era uma aliança entre Deus e Israel (Ex. 19:5, 20:2), aceita pelo povo (Ex. 24:3), e que nada tinha a ver com os Gentios.
- Mas Jeremias 31:31-33 fala de uma nova aliança, escrita nos corações, não em tábuas de pedra. Ver 2 Cor. 3:3,6-8 e Heb. 8:10,13 (‘envelheceu’), onde fica claro que o Evangelho de Cristo tem a ver com essa nova aliança. A “nova” torna a primeira obsoleta. Ver também Heb. 7:12 (mudou),18 (‘ab-rogado’),22,28 (‘depois da lei’); 8:6à9:5 e 10:9 (‘tira o primeiro’).
- Hebreus 7:12 – se o sacerdócio mudou, necessariamente mudou a lei também.
- Em Marcos 2:27-28 Jesus, Senhor/Dono do Sábado, esclarece: o Sábado veio a existir por causa do homem, não o contrário. Como Dono, Jesus pôde mudar as regras, ou mesmo anular.
- Jesus não menciona o Sábado no Cenáculo, e nem nas aparições após sua ressurreição. Aliás, não consta em nenhum mandamento proferido por Jesus a seus discípulos. Em João 15:10 Ele disse: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor.” Então podemos permanecer no amor de Cristo sem guardar o Sábado, pois não consta entre esses mandamentos.
- Apelar para Hebreus 13:8 (“Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje e eternamente”) ou Tiago 1:17 (“o Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação”) não funciona, pois tais textos têm a ver com Seu caráter, não com a maneira de administrar a terra. Óbvio. A situação depois da queda do homem foi muito diferente do que antes; depois do dilúvio do que antes; depois da Lei de Moisés do que antes; depois da vitória de Cristo do que antes. Ninguém no A.T. se salvou por confiar no sangue derramado do Senhor Jesus Cristo: se Deus já mudou as exigências específicas para que uma pessoa se salve, então porque não pode Ele mudar um detalhe menor como o dia de descanso?
- A Bíblia nunca confunde Israel e Igreja; sempre são tratados como entidades distintas. A Igreja não é mera continuação de Israel, pois Israel, como tal, ainda voltará ao palco.
- O caráter moral de Deus não muda. Em 1 Cor. 6:9-10, Efésios 5:5 e Apoc. 21:8 encontramos relações dos tipos de pessoa que não entrarão no Reino de Deus. Aí estão pecados relacionados a cada um dos dez mandamentos, exceção feita ao quarto, guardar o Sábado. Então guardar o Sábado não é mais condição para entrar no Reino, exatamente por não ser uma questão moral, pelo menos assim me parece.
- Além do Senhor Jesus ressurreto aparecer aos Apóstolos reunidos no domingo pelo menos duas vezes, Atos 20:7, 1 Cor. 16:2 e Apoc. 1:10 apontam para um uso rotineiro do domingo por parte dos Cristãos. Aliás, após a ressurreição de Cristo não há menção no NT de algum crente observar o Sábado, como tal (Paulo ia às sinagogas para evangelizar).
- Em Romanos 6:14 Paulo afirma não estarmos debaixo da lei mas debaixo da graça. Aliás, são vários os textos que levam a entender que o Dono do Sábado de fato o aboliu, pelo menos no que diz respeito à Igreja — Atos 15:24-29; Gal. 2:11-19; 3:10-13,19,24-25; 4:24-5:1; 5:18; Ef. 2:15; Col. 2:14 e os textos já citados em Hebreus 7.
- O Concílio que houve em Jerusalém, relatado em Atos 15, tratou exatamente da questão de até que ponto os cristãos gentílicos deveriam obedecer a lei de Moisés, e o Sábado ficou fora; não consta na lista das quatro coisas que foram cobradas. “Pareceu bem ao Espírito Santo” (v. 28) afirma que a decisão foi de inspiração divina, e portanto de autoridade divina. Se o Espírito Santo não cobra mais o Sábado, quem entre nós tem autoridade para cobrá-lo?
- Mas a força dos costumes judaicos era tamanha que até o Tiago, que em Atos 15 ouviu corretamente o Espírito Santo, mais tarde sucumbiu e pressionou Paulo a fazer o que não devia (Atos 21:18-26). Daí para frente parece que a liderança em Jerusalém foi perdendo a importância, e com a destruição da cidade sumiu de vista. Daí, as práticas de qualquer igreja judaica da época não devem ser consideradas como normas para a Igreja. As normas da Igreja devem ser extraídas do Novo Testamento.
- Os Judeus são sabatistas, e devem existir sabatistas outros que também não estão confiando no sangue derramado do Cordeiro de Deus, pela salvação da alma, e portanto não irão para o Céu. Transparece que ser sabatista não acarreta o beneplácito de Deus. Depois, quando alguém desenvolve orgulho espiritual por ser sabatista, é porque o sabatismo virou fortaleza de Satanás na sua vida.[1] Já vi o sabatismo provocar estagnação espiritual.
- Em Col. 2:16 é proibido julgar outrem por causa do sábado; logo o sábado não pode ser norma. Tanto não é norma que em Rom. 14:5-6 é dito que a escolha do dia fica a critério de cada indivíduo.
Conclusão: se alguém quer observar sábado, pode; se alguém quer observar domingo, pode; se alguém quer observar quarta-feira, pode; etc. Contudo, segundo Heb. 10:25 havemos de nos reunir regularmente, e para esse efeito obviamente tem que haver consenso. Desde a ressurreição de Cristo, o consenso geral das igrejas ditas cristãs tem sido reunir-se aos domingos. É o dia do Senhor, que comemora a nova criação, a nova aliança (assim como o sábado comemorava a antiga criação e aliança).
Dr. Gilberto Pickering
[1] Quando alguém está mais interessado em defender um ponto de vista do que em ouvir a Palavra de Deus, é bem possível que esse ponto de vista seja uma fortaleza de Satanás. Uma pessoa que no afã de defender uma tese lança mão de argumentos estúpidos, mas que acha que está sendo muito lógica, quase sempre está padecendo de cegueira espiritual.
2 comentários:
Pelo que li, os argumentos são bíblicos e não estúpidos.O interessante é que quando o adventismo posta comentários ou doutrinas que ela julga correta e que contrariam ensinamentos de outras igrejas, para eles não se trata de uma tese defendida.Só a dos outros.Isto sim é estupidez.
Acredito que este assunto (Sábado x Domingo) deveria estar em outra categoria ou marcador, considerando que o 'Adventismo' é a crença convicta na volta (o advento) do Senhor Jesus Cristo, não havendo nenhuma relação com a observância do 4º mandamento da lei. Logo, todo cristão que crê e aguarda o retorno de Jesus é um adventista.
Ainda no primeiro item, sobre não haver nenhuma menção na Bíblia de alguém guardar o Sábado antes da Lei de Moisés, existem pelo menos dois equívocos, considerando que Deus, o criador, foi o primeiro guardador do sábado (Gênesis 2:2).
No episódio em que Deus enviara maná do céu para alimentar o povo, notamos a preocupação de Deus no tocante a guarda do sábado (Êxodo 16:21-27). O detalhe é que a Lei ainda não havia sido escrita, mas ainda assim o povo guardou o sábado (do Senhor).
A lei, não é a lei de Moisés e sim, a lei de Deus, escrita pelo Seu próprio dedo em tábuas de pedra (Êxodo 31:18) e entregue a Moisés, este fora somente um transmissor da vontade de Deus ao povo.
Embora a lei não tenha poder para salvar, visto que a salvação é dom de Deus mediante o sacrifício de Cristo, é importante considerarmos que esta tem poder para julgar (Romanos 2:12). Não vivemos sob a lei, e sim, sobre a lei, e debaixo da maravilhosa graça de Jesus. Vivemos acima da lei e debaixo da graça (Romanos 6:14). Note que, assim como o povo de Deus guardou os mandamentos DEPOIS de haverem sido libertos da escravidão do Egito, ou seja, a salvação antecedeu a santificação, hoje, obedecemos os mandamentos porque outrora fomos salvos e livres do pecado, a transgressão da lei (1 João 3:4).
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