terça-feira, 11 de setembro de 2012

VIDA DE COMUNHÃO PROFUNDA







“...Vinde vós, aqui a parte, a um lugar deserto...”


           A vocação à santidade, nos vários estados de vida, tem origem em Deus. Nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17.28).
          Por isso mesmo a vocação à vida de comunhão profunda é um chamado de Deus – Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda (João 15.16). O Mestre escolhe, fixa o Seu olhar cheio de afeição, e desafia: “...vinde vós, aqui a parte, a um lugar deserto...” (Mr.6.31). A iniciativa é dele. Uma iniciativa total do Pai que requer daqueles que escolhe uma resposta de dedicação plena e exclusiva. A experiência deste amor gratuito é tão forte e tão íntima que a pessoa sente que deve responder com a dedicação incondicional da sua vida.
         Firma-se uma Aliança de amor entre Deus e a pessoa, porque a vocação à comunhão mais profunda é essencialmente amor de Deus. Amor não se compra nem se vende. Acolhe-se e oferece-se na gratuidade. A consagração de alguém na vida ao serviço e comunhão é surpreendentemente bela: oferece-se a própria vida a Deus pela Igreja e pela humanidade. A vida de comunhão profunda, é a dimensão de oração da Igreja, vida escondida com Cristo em Deus, vida que, no silêncio, perscruta os segredos do mesmo Deus e, gozosa, se submerge nele, vida que escandaliza “a sabedoria dos grandes”, daqueles que olham a Igreja de fora. É um mistério humano e divino. É o monte, afastado e ermo, para onde Jesus retira-se muito cedo e se põe em oração.


O silêncio, a comunhão e a adoração é um grito provocador: “Deus Existe!”

          A vida de comunhão é o permanente caminhar do Filho com o Pai no Espírito Santo. Assim, a vida consagrada em profunda comunhão torna-se um dos rastos concretos que o Espírito Santo deixa no caminho.



“...Vinde vós, aqui a parte, a um lugar deserto...”

          “coração … se para descansar procurais um leito, eu recebo-te em meu mísero peito… velar- te quero, enlevada em silenciosa oração, qual nuvem perfumada de incenso...”, escreveu um poeta cristã.
          A experiência a que Deus convida, na vida de comunhão, é a casa de Marta, de Maria e de Lázaro, onde Jesus gosta de Se recolher para descansar e falar sua palavra. Aí, Marta oferece alimento e Maria escolhe ficar aos pés do Mestre a escutá-lo. A préocupação de uma vida em comunhão é estar com Jesus e cuidar das coisas de Deus, dos interesses de Deus.
             A vida de comunhão profunda é a afirmação da primazia. Deus. realiza o Mandamento do Amor: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças (Dt 6.4). Os que estão em profunda comunhão com Deus, sabem o que Deus é e isso lhes basta. Um Cristão de oração do passado, deslumbrado ciciava por noites inteiras em oração: “Oh Senhor! Tu és meu tudo”. Em profunda oração e abismado na sua pequenez, exclamava: “Meu Deus, quem és tu e quem sou eu”?! Ele entendeu o Evangelho do profundo amor de Deus.
            Os cristãos de comunhão profunda com Deus experimentam a presença de Deus: olham, e vêem que são olhados por aquele que tudo vê, tudo abrange, tudo sustém nas próprias mãos. Para onde quer que se movam sabem que o Onipresente já lá está. E o silêncio é, neles, a linguagem mais eloqüente.
            A Casa de Oração é o monte da oferta total, do holocausto. Porque se vive em Deus, a vida de comunhão profunda, é um mistério de fé, a radical- idade do Evangelho vivido com amor, verdade e profundidade interior, é o desafio que se combate na arena escaldante e sossegada do lugar de oração. Aqui, a alma consagrada luta permanentemente, em “duelo singular” consigo mesma, desafiando a carne e luta com o próprio Deus, numa batalha com princípio… sem fim... para que Deus seja tudo em todos! É como Jacó no vau de Jaboque (Gn 32.22-31)
            Foi essa a experiência dos grandes Homens – Patriarcas e Profetas – a quem Deus se revelou na infinita solidão do deserto e no cume das montanhas. Abraão subiu ao monte para aí oferecer o filho, o seu único filho… Moisés descobriu o Senhor na sarça ardente, no monte Sinai onde, durante quarenta dias e quarentas noites, teria a inefável experiência do “face a face com o Senhor”.
           É o monte da escuta, da oração, o lugar onde se perscruta, no horizonte, o Sinal do Deus vivo. Elias sobe ao Horebe e, escondido na rocha, pode experimentar a glória do Senhor que Se revela no suave murmúrio da brisa.
           É nesse abismar-se na profunda e fecunda experiência de Deus, na inação ativa, que os cristão de comunhão profunda tornam efetivo o seu amor à Igreja e à Humanidade.
           A vida de comunhão profunda é, no mundo, a vida de Jesus e a Sua relação íntima com o Pai. Os cristãos de comunhão profunda dedicam-se exclusivamente a proclamar Jesus,  num dos seus aspectos mais apaixonantes, o Cristo Ressuscitado.

Os Cristãos de comunhão Profunda  e a Antecipação da Alegria antes da Morte.

“Vês tu o Rei da Glória que eu contemplo”? Perguntava uma piedosa irmã anabatista, pouco antes de morrer, à irmã que estava junto dela. E ali, ela glorificava a Jesus pela salvação. Também dizia para a Irmã que lhe assistia: “fixa o teu olhar na  eternidade, deixa a tua alma banhar-se na maravilha do glorioso porvir e une o teu coração a Jesus, Àquele que é Deus encarnado. Assim poderás experimentar o que só os cristãos em comunhão profunda com Deus podem sentir quando saboreiam a doçura escondida que Deus tem reservado desde toda a eternidade àqueles que amam a Jesus”.



Células vivas do Corpo de Cristo

            Se os cristãos de comunhão profunda estão de algum modo no coração do mundo, muito mais ainda se acham no coração do Corpo de Cristo, a Igreja
            O coração é um pequeno e vigoroso músculo que trabalha escondido no interior, bate silenciosamente e leva a vida a todo o corpo, renova e purifica a seiva vital e... Está escondido no peito! Assim se encontra o cristão verdadeiro de comunhão profunda  na Igreja. As vida de  comunhão profunda são o segredo da Igreja viva e atuante, suas “armas secretas”, são viva chama, permanentemente a arder e a exalar perfume de incenso sobre o Altar Divino.
            Estes são ilhas escondidas, de silêncio, oração e de meditação. Não estão esquecidas nem separadas, mas atuantes com a Igreja de Deus, formando o seu coração, alimentando as suas riquezas, sublimam as suas orações, sustentam e partilham os seus sofrimentos, revigorando, assim, a esperança no mundo futuro.
         
           Os cristãos de comunhão profunda com Deus gritam ao mundo de hoje que Cristo é o centro da História, que caminha conosco vivo e ressuscitado. A vida em profunda comunhão é uma provocação à esperança, à pureza da fé, à verdade do amor e à felicidade. É a afirmação: Deus atua entre nós.

Um Irmão em Pomerode

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