“...Vinde vós, aqui a parte, a um lugar deserto...”
A vocação à santidade, nos vários
estados de vida, tem origem em Deus. Nele
vivemos, nos movemos e existimos (At 17.28).
Por isso mesmo a vocação à vida de
comunhão profunda é um chamado de Deus – Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos
escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto
permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo
conceda (João 15.16). O Mestre escolhe,
fixa o Seu olhar cheio de afeição,
e desafia: “...vinde vós, aqui a parte, a um
lugar deserto...” (Mr.6.31). A iniciativa é dele. Uma
iniciativa total do Pai que requer daqueles que escolhe uma resposta de
dedicação plena e exclusiva. A experiência deste amor gratuito é tão forte e
tão íntima que a pessoa sente que deve responder com a dedicação incondicional da sua
vida.
Firma-se uma Aliança de amor
entre Deus e a pessoa, porque a vocação à comunhão mais profunda é
essencialmente amor de Deus. Amor não se compra nem se vende. Acolhe-se e
oferece-se na gratuidade. A consagração de alguém na vida ao serviço e comunhão é surpreendentemente bela: oferece-se a
própria vida a Deus pela Igreja e pela humanidade. A vida de comunhão profunda,
é a dimensão de oração da Igreja, vida escondida com Cristo em Deus, vida que,
no silêncio, perscruta os segredos do mesmo Deus e, gozosa, se submerge nele,
vida que escandaliza “a sabedoria dos grandes”, daqueles que olham a Igreja de
fora. É um mistério humano e divino. É o monte, afastado e ermo, para onde
Jesus retira-se muito cedo e se põe em oração.
O silêncio, a comunhão e a
adoração é um grito provocador: “Deus Existe!”
A vida de comunhão é o permanente
caminhar do Filho com o Pai no Espírito Santo. Assim, a vida consagrada em
profunda comunhão torna-se um dos
rastos concretos que o Espírito Santo deixa no caminho.
“...Vinde vós, aqui a parte, a um lugar deserto...”
“coração … se para descansar
procurais um leito, eu recebo-te em meu mísero peito… velar- te quero, enlevada
em silenciosa oração, qual nuvem perfumada de incenso...”, escreveu um
poeta cristã.
A experiência a que Deus convida, na
vida de comunhão, é a casa de Marta,
de Maria e de Lázaro, onde Jesus gosta de Se recolher para descansar e
falar sua palavra. Aí, Marta oferece alimento e Maria escolhe ficar
aos pés do Mestre a escutá-lo. A préocupação
de uma vida em comunhão é estar
com Jesus e cuidar das coisas de Deus,
dos interesses de Deus.
A vida de comunhão profunda é a
afirmação da primazia. Deus. realiza o Mandamento do Amor: O Senhor nosso
Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com
toda a tua alma e com todas as tuas forças (Dt 6.4). Os que
estão em profunda comunhão com Deus, sabem o que Deus é e isso lhes basta. Um
Cristão de oração do passado, deslumbrado
ciciava por noites inteiras em oração: “Oh Senhor! Tu és meu tudo”. Em profunda oração e abismado na sua
pequenez, exclamava: “Meu Deus, quem és tu
e quem sou eu”?! Ele entendeu o Evangelho do profundo amor de Deus.
Os cristãos de comunhão profunda
com Deus experimentam a presença de Deus: olham, e vêem que são olhados por aquele
que tudo vê, tudo abrange, tudo sustém nas próprias mãos. Para onde quer que se
movam sabem que o Onipresente já lá está. E o silêncio é, neles, a linguagem
mais eloqüente.
A Casa de Oração é o monte da
oferta total, do holocausto. Porque se vive em Deus, a vida de comunhão
profunda, é um mistério de fé, a radical- idade do Evangelho vivido com amor,
verdade e profundidade interior, é o desafio que se combate na arena escaldante e sossegada do lugar
de oração. Aqui, a alma consagrada luta permanentemente, em “duelo singular”
consigo mesma, desafiando a carne e luta com o próprio Deus, numa batalha com
princípio… sem fim... para que Deus seja tudo em todos! É como Jacó no vau de
Jaboque (Gn 32.22-31)
Foi essa a experiência dos grandes
Homens – Patriarcas e Profetas – a quem Deus se revelou na infinita solidão do deserto e no cume
das montanhas. Abraão subiu ao monte para aí oferecer o filho, o seu único
filho… Moisés descobriu o Senhor na sarça ardente, no monte Sinai onde, durante
quarenta dias e quarentas noites, teria a inefável experiência do “face a face com o Senhor”.
É o monte da escuta, da oração, o
lugar onde se perscruta, no horizonte, o Sinal do Deus vivo. Elias sobe ao
Horebe e, escondido na rocha, pode
experimentar a glória do Senhor
que Se revela no suave murmúrio da
brisa.
É nesse abismar-se na profunda e
fecunda experiência de Deus, na inação
ativa, que os cristão de comunhão profunda tornam efetivo o seu amor à
Igreja e à Humanidade.
A vida de comunhão profunda é, no
mundo, a vida de Jesus e a Sua relação íntima com o Pai. Os cristãos de comunhão profunda dedicam-se exclusivamente a proclamar
Jesus, num dos seus aspectos mais
apaixonantes, o Cristo Ressuscitado.
Os Cristãos de comunhão Profunda e
a Antecipação da Alegria antes da Morte.
“Vês tu o Rei da Glória que eu contemplo”? Perguntava uma
piedosa irmã anabatista, pouco antes de morrer, à irmã que estava junto dela. E
ali, ela glorificava a Jesus pela salvação. Também dizia para a Irmã que lhe
assistia: “fixa o teu olhar na eternidade,
deixa a tua alma banhar-se na maravilha do glorioso porvir e une o teu coração a Jesus, Àquele que é Deus
encarnado. Assim poderás experimentar
o que só os cristãos em comunhão
profunda com Deus podem sentir quando saboreiam a doçura escondida que Deus tem reservado desde toda a eternidade
àqueles que amam a Jesus”.
Células vivas do Corpo de Cristo
Se os cristãos de comunhão profunda
estão de algum modo no coração do mundo, muito mais ainda se acham no coração do
Corpo de Cristo, a Igreja
O coração é um pequeno e vigoroso
músculo que trabalha escondido no interior, bate silenciosamente e leva a vida
a todo o corpo, renova e purifica a seiva vital e... Está escondido no peito!
Assim se encontra o cristão verdadeiro de comunhão profunda na Igreja. As vida de comunhão profunda são o segredo da Igreja viva
e atuante, suas “armas secretas”, são viva chama, permanentemente a arder e a
exalar perfume de incenso sobre o Altar Divino.
Estes são ilhas escondidas, de silêncio,
oração e de meditação. Não estão esquecidas nem separadas, mas atuantes com a
Igreja de Deus, formando o seu coração, alimentando as suas riquezas, sublimam
as suas orações, sustentam e partilham os seus sofrimentos, revigorando, assim,
a esperança no mundo futuro.
Os cristãos de comunhão profunda com
Deus gritam ao mundo de hoje que Cristo é o centro da História, que caminha
conosco vivo e ressuscitado. A vida em profunda comunhão é uma provocação à
esperança, à pureza da fé, à verdade do amor e à felicidade. É a afirmação:
Deus atua entre nós.
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